segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mulheres negras em luta


Embora as reivindicações pelos direitos da mulher expressos pelos movimentos de mulheres terem conquistados muitos avanços, percebemos que a luta pelo reconhecimento e luta das mulheres negras permanece constantemente invisibilizadas. Apesar das transformações conquistadas pelos movimentos feministas, as mulheres negras continuam marcadas pelos inúmeros tipos de violência e vivem em uma situação de muita opressão, marcada não só pelo machismo como também pelo racismo. As negras sempre resistiram a essa violência, mesmo negadas a diversos direitos, elas foram pioneiras na luta pela emancipação, ocupando espaços fora de casa muito antes das brancas questionarem a falta de acesso e as desigualdades impostas pelo sistema de dominação patriarcal. Mesmo manifestando sua resistência antes das brancas, as negras ainda não conseguem ter suas demandas contempladas pelos movimentos feministas, resultando na manutenção dessas mulheres em condições de desigualdades e falta de acesso.
Se a mulher negra desempenhava no período escravista o trabalho de exploração de sua força física, vimos que após a abolição a situação permanece a mesma. Sabemos que quando se fala do estereótipo do “sexo frágil”, não se fala das negras, pois a essas sempre foram exigidos os serviços braçais e ainda hoje, elas continuam desempenhando funções análogas as do trabalho escravo da sociedade colonial. Além da exploração pelo trabalho, as mulheres negras sempre sofreram com a exploração sexual por meio do assédio de seus senhores, tendo o corpo reduzido a um simples objeto. Se antes eram obrigadas a servir aos senhores, até hoje são exploradas pelo estereótipo da “negra boa de cama” ou a “negra cor do pecado”, essa visão da negra como objeto sexual é sustentada pela mídia, estimulando o turismo e a exploração sexual dentro e fora do país. A negra tem se manifestado pela liberdade sexual e os direitos reprodutivos desde sempre, violências em que a negra continua sendo a mais oprimida. Se no período colonial a negra era obrigada a sufocar seu filho na hora do nascimento para que ele não nascesse escravo, hoje ela continua a ser a maior vítima do descaso com a saúde, fazendo aborto em clínicas clandestinas ou com procedimentos caseiros arriscados. Muitas delas morrem ou guardam grandes sequelas resultantes do descaso de uma discussão aprofundada sobre as maneiras de contracepção e o aborto. As brancas, por sua vez, têm sua saúde e segurança garantidas, já que podem pagar pelos serviços médicos. E de que vale termos uma presidenta? Dilma tem cada vez mais ignorado a discussão sobre o aborto e as políticas públicas voltadas a saúde da mulher negra, representando o retrocesso na luta de mulheres.
 As mulheres negras também são vítimas de padrões de beleza eurocêntricos e brancos que buscam de todas as maneiras rejeitar nossos traços, cabelos e formas de vestir. As mulheres brancas são sempre associadas a figuras do bem, as figuras angelicais e isso tem desestimulado as negras que cada vez mais alisam seus cabelos e perdem a sua identidade. Enquanto as negras são associadas a figuras maliciosas ou a falta de asseio, a sujeira, a pobreza.
Assim como no período escravista a mulher continua desempenhando a responsabilidade de cuidar de sua família e da família de suas patroas, estas que ironicamente lutaram se reivindicando feministas para alcançar o mercado de trabalho, mas que mantém as condições de desigualdade impostas à mulher negra.  Enquanto as brancas reivindicavam a inserção no mercado de trabalho (enquanto feminista), a negra torna-se a principal provedora da casa após a abolição, uma vez que após a assinatura da lei áurea não foram garantidos direitos necessários a nossa população, resultando na marginalização a que nosso povo continua submetido. As mulheres negras sempre manifestaram diversos maneiras de resistência ao sistema colonial, trabalhando como quituteiras, por exemplo, tiveram também um grande papel na formação dos quilombos, auxiliando na troca de informações que garantiam as fugas dos escravizados em direção aos quilombos. Tendo em Palmares, uma líder chamada Acotirene. Muitas negras protagonizaram as revoltas negras, como Luiza Mahin, negra guerreira que protagonizou uma das principais revoltas negras, a revolta dos malês que aconteceu na Bahia.  As negras sempre manifestaram sua resistência de diversas formas, seja por meio de luta armada, pela cultura, pela religião ou pela dança. Ainda assim continuam em situação de submissão à mulher branca e as suas demandas. Após diversas lutas, sobretudo após a década de 90, muitas mulheres passaram a ocupar altos cargos e vagas nas universidades, porém ainda temos muita dificuldade em ver mulheres negras nestes espaços. Por outro lado elas são facilmente identificadas em espaços destinados aos serviços de limpeza, serviços domésticos e de menor prestígio. Entendemos que o acesso que é proporcionado às mulheres brancas não é o mesmo proporcionado às negras. Além disso, sabemos das dificuldade das mulheres negras em acessar os direitos trabalhistas, sobretudo as que exercem trabalhos como os de empregada doméstica, função que mais tem explorado e violado os direitos constitucionais e humanos.
Mesmo tendo uma sociedade estruturalmente fundada no racismo, a discussão sobre o “feminismo negro” ainda não desperta a atenção dos movimentos feministas ou por muitas vezes é tratada equivocadamente como sectarismo. A nossa intenção, porém é de promover a luta da mulher negra e suas especificidades somadas à luta dos movimentos feministas, a invisibilidade de uma análise que contemple a questão racial e a questão da mulher só contribuem para que as mulheres negras não acessem os serviços públicos e para que continuem excluídas do processo democrático.
O bloco das pretas é um bloco fundado pelo CEN- Coletivo de estudantes negros e surge com o intuito de compor uma luta completa pela descolonização por meio do empoderamento das mulheres, pois acreditamos que a valorização de nossas matrizes afro-brasileiras são ferramentas necessárias para refletirmos acerca das dominações em que nós, negras, estamos submetidas. Estamos no país mais negro fora do continente africano, o Estado de Minas Gerais é o terceiro estado mais negro do país, mas percebemos que a mulher negra continua inferiorizada e excluída. Com altos índices de violência contra mulher, nós sabemos que as negras são as que menos utilizam a lei Maria da Penha, muitas vezes nem conhecem os instrumentos de denúncia; além de serem afetadas pela falta de auto-estima, dependência financeira ou emocional e pelo medo de retaliação. Acreditamos que somente as medidas punitivas em nada solucionam os problemas de um sistema patriarcal, essas devem ser associadas a programas de educação, prevenção e conscientização da população, hoje o que o sistema prisional representa as senzalas do período colonial, que privam majoritariamente a população negra. A maior parte das mulheres em privação de liberdade, tanto em sócio- educativos quanto em penitenciárias hoje no estado também são negras.   Entendemos que a visão colonialista e o racista são fundamentais para a manutenção do capitalismo e a imposição dos valores eurocêntricos em que o machismo se expressa. Combatemos as visões etnocêntricas e racistas que buscam inferiorizar nossa cultura, construindo dentro da marcha de mulheres um bloco que possa visibilizar nossa luta. Para nós é de suma importância que a luta de mulheres deve contemplar as dinâmicas de opressão impostas pela sociedade, avançando a luta das mulheres negras em todo Brasil. Convidamos a todxs companheirxs para compor esse movimento, acreditamos que a violação aos direitos humanos em que a mulher negra está exposta deve ser exposta e combatida e para tanto devemos avançar nossas discussões com os movimentos convencionais na luta pela garantia de direitos que contemplem todos, sem isso os movimentos não alcançarão a revolução e a igualdade.

FRENTE DE MULHERES BLOCO DAS PRETAS - COLETIVO DE ESTUDANTES NEGRXS

“Contaremos com a vivência histórica de resistência da mulher negra e indígena para mudarmos, em caráter de urgência, esse cenário de desigualdades. Mas há que pular todas essas barreiras, externas e introjetadas, fazer do feminismo a soma de todas as variações do feminino.”
Alzira Rufino  

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1 comentários:

Iguais em Desgraça disse...

Adorei o texto. Parabens!

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